30 April 2006

Pensamento 19

"Fatos não deixam de existir
porque são ignorados."

(Aldous Huxley)

19 April 2006

Pensamento 18

O olho [do artista] nunca está nu. O ato de ver envolve intrincados mecanismos de expectativa, seleção e decodificação no interior do cérebro humano. Em parte, tais mecanismos são fisiológicos e, em parte, psicológicos. Se alguém é míope ou daltônico, a paisagem que percebe varia de acordo com sua miopia ou seu daltonismo. Mas a visão normal [será que há uma visão normal?] deriva também de educação e escolha. Neste caso, os fatores do controle são essencialmente culturais. A informação, os dados externos recolhidos pelo olho [também pelo ouvido] têm que ser interpretados para que tenham sentido, e essa interpretação variará conforme a herança histórica, o meio social ou profissional e as convenções estéticas [do seu repertório, enfim].

Georges Steiner

12 April 2006

Cântico Negro

(Poema de Deus e do Diabo)

José Régio(*)

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe.
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
— Sei que não vou por aí!
.
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(*) pseudônimo de José Maria dos Reis Pereira, nascido em Vila do Conde em 1901, licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, no entanto, foi como poeta que primeiramente se impôs. Com o livro "Poemas de Deus e do Diabo" (1925), apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores.

09 April 2006

Pensamento 17

Como é possível que
sendo as criancinhas tão inteligentes,
a maioria das pessoas seja tão tola?

A educação deve ter algo a ver com isso.

Alexandre Dumas Filho